Dados do Trabalho
Título
Resposta Patológica Completa de Carcinoma Hepatocelular Avançado após Imunoterapia
Apresentação do Caso
Paciente masculino, 71 anos, com cirrose secundária a hepatite B crônica, etilista social e ex-tabagista (25 maços-ano), iniciou acompanhamento no HCPA em abril de 2022 após detecção de grande lesão hepática em exame de imagem. Estava assintomático, com funcionalidade plena (ECOG 0), sem ascite ou estigmas de cirrose, e função hepática normal (Child A, MELD 8). Exames laboratoriais mostraram alfafetoproteína (AFP) de 19,9 ng/mL. A ressonância magnética revelou lesão expansiva no segmento VI hepático de 20,4 cm, com invasão de veia cava inferior e pequenas lesões satélites adjacentes. O tumor foi considerado irressecável e fora dos critérios de Milão para transplante hepático. O paciente iniciou terapia sistêmica com Atezolizumabe e Bevacizumabe em setembro de 2022, com acompanhamento periódico.
Em março de 2024, a tomografia mostrou redução da lesão hepática (3,2 x 3,0 x 2,6 cm) e ausência de invasão na veia cava. A resposta ao tratamento permitiu reconsideração cirúrgica. Em junho de 2024, o paciente foi submetido à ressecção em cunha do segmento VI, com ressecção completa da lesão. O exame anatomopatológico mostrou necrose completa da lesão hepática.
Discussão
Carcinomas hepatocelulares com invasão de grandes vasos, como a veia cava, possuem prognóstico reservado e são considerados irressecáveis. Nesses casos, a terapia sistêmica é indicada, especialmente com imunoterapia e agentes antiangiogênicos. A combinação de Atezolizumabe/Bevacizumabe é uma das terapias indicadas para esse subgrupo de pacientes . A invasão vascular, embora não seja uma contra-indicação absoluta para a ressecção cirúrgica, está associada a um prognóstico reservado, assim sendo, o tratamento sistêmico é a terapêutica mais utilizada nesses casos, uma que pode promover downstaging. A monitoração da AFP e exames de imagem foram cruciais para a decisão de realizar cirurgia após o downstaging. Apesar da boa performance prévia e o porte menor da ressecção hepática, o pós-operatório deste paciente incluiu diversas complicações: íleo adinâmico, derrame pleural, insuficiência respiratória e duas internações na UTI por suspeita de hemorragia digestiva. Essas complicações refletem os desafios do manejo pós-operatório em hepatopatas.
Comentários Finais
O caso destaca a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento de tumores hepáticos avançados e a ideia de que está se abrindo uma nova janela de tratamentos com intenção curativa, para aqueles pacientes que apresentam resposta brilhante ao tratamento sistêmico.
Área
Câncer Hepato-pancreato-biliar
Autores
DAVI ENRIQUE SALINI, João Henrique Muniz Conte, Felipe Marchiori Bau, Cleber Rosito Pinto Kruel, Lorenzo Oliveira Dias, Humberto Cardoso Alves, Gabriel Signori, Henrique Ritter Dal Pizzol